A loucura do outro é sempre um susto, não sei por que já que
de qualquer maneira,todas as almas são tortas,todas as cicatrizes doem e
todas as fissuras teimam em se alargar,não importando quem somos,nem de onde
viemos. O fato é que quando somos cobertos pelo que de insano o outro carrega,
o sentimento é de assistir de supetão a uma batida de trens com vítimas.
Ficamos despedaçados, sem entender de onde aquilo saiu e
muito menos porque fomos os escolhidos para participar daquele espetáculo
grotesco.
Fico, invariavelmente, me perguntando se foi algo que disse,
ou que fiz, ou ainda, que não disse ou fiz. Claro que não há resposta para isso
e, muito provavelmente, em algum lugar, alguém atingido pelo meu trem também se
sente da mesma forma, mas não faz diferença, o susto, a tristeza, se sentam bem
no meio da minha alma e começam a cavoucar até que outra ferida se abra e dela
verta mais um braço de mais uma loucura,que um dia se derramará em alguém,caso
eu não preste a atenção,às vezes mesmo prestando.
Ciclo burro este. Seria tão mais simples deixar portas e
janelas abertas, que monstro sobrevive a luz do sol? Mas, no final das contas, isso
também é loucura. Mostrar ao outro como seus fantasmas gritam, ensina-lo a
caminhar por entre seus becos escuros,para quem olha, é assustador, não atacar,
não se esconder,ao contrário,se mostrar sem reservas, é, às vezes, mais louco
do que despejar sua geografia sinuosa na alma alheia e sem nenhum limite
rasgar-lhes as tênues teias que a protegem.
Não muda muito, nessa hora, se quem te assalta com o peso do
desatino, acabou de chegar ou mora por uma vida ao teu lado, talvez o tempo que
a dor leva para se esquecer de doer, mas não o tamanho do corte, isso depende
de quem voce é e como lida com o mundo e se vives por aí de peito aberto, (lembra-se
do parágrafo acima?), então... Haja espaço para tanta mácula e ato contínuo, se
tranque e ataque o outro.
O diabo é quando voce não sabe ou não quer ser assim, aí, resolve
como?
Enche o peito, assume a sua porta aberta e desfila serena
pelo avesso, no meio da rua, passando atestado de estranheza pura e pagando o preço,ou se encolhe e cede ao jogo de posar
de lúcido,mas vomita sua dor mal resolvida na cara do outro para se sentir
inteiro e leve?
Claro que há loucos de todos os tipos; Há aqueles cuja
loucura é fruto da inabilidade de lidar com os próprios abismos, que se
torturam perseguidos pelos próprios fantasmas e vertem em poesia sua dor; há
aqueles que vivem reféns da carga de suas psicopatias e há os que só gostam
mesmo de se divertir ás custas do espanto alheio, o que, dependendo do grau, não
deixa de se enquadrar na categoria das doenças mentais e/ou neurológicas e,
infelizmente, ninguém anda por aí com letreiro na testa.
De qualquer modo, não há como saber que tipo de alma aportou
do seu lado, exceto permitindo que ela se mostre e, provavelmente,quando se
descobre, o estrago já está feito. A outra opção seria se isolar do mundo e há
quem viva assim, o que também é loucura, essa, filha do medo.
Viver é mesmo estranho e perigoso,dói,machuca e se chora
mais do que se ri,quando se cuida de si e do outro e essa conversa de
“agricultura sentimental” é pura balela Judaico-Cristã,voce pode passar uma
existência distribuindo flores e só receber em troca um belo bouquet de
espinhos afiados e o contrário também vale, portanto, viva o que tiver que
viver do jeito que der, mas tente manter as portas e a alma abertas,se não for
por mais nada,pelo menos porque é mais respeitoso com dores que não são suas e sobre as quais,nada sabe.
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